Pelos, penas e pelúcias – consciência ecológica através do afeto

Há alguns bons anos atrás (pelos idos de 2011, se não me engano), estive em contato com a Associação Amigos do Parque Nacional da Tijuca, ou simplesmente Amigos do Parque,  uma organização não-governamental sem fins lucrativos, fundada em 1999, com a missão de colaborar para a conservação, a proteção e a promoção da natureza e da cultura vivas no Parque Nacional da Tijuca.

Na época, essa aproximação se deu por conta da necessidade de remodelação do website da instituição, de forma a oferecer maior proximidade com o visitante do Parque Nacional, por meio de conteúdo informativo e muito mais interativo.

Lembro das reuniões no Parque Lage, onde se situava a sede da associação, e dos muitos aprendizados sobre sustentabilidade, conservação de seus elementos e paisagens naturais, e da proteção de seus monumentos, sítios, memórias, narrativas e valores.

O tempo passou. O site foi entregue, depois atualizado, a associação foi descontinuada (leia o comunicado de encerramento), mas as lembranças permanecem, ainda mais sabendo que em 2021 o Parque Nacional da Tijuca completa 60 anos! (saiba mais sobre sua história).

Esboços iniciais do Tamanduá-mirim e quati, símbolo do PNT

Nessas lembranças, encontrei alguns sketches de uma proposta de confecção de personagens e bonecos que, além de prover arrecadação de fundos ao Parque ou à Associação, funcionariam como um recurso que criasse empatia com os seus frequentadores, auxiliando a compor a sua imagem, com cores e personalidade. A criação de personagens com base na fauna e flora existentes,  incentivariam a interação com o Parque, o entendimento sobre cada animal, seus comportamentos, famílias e o equilíbrio natural entre as espécies, educando, cativando e despertando o interesse pelas suas atividades e toda a riqueza ambiental, além de criar laços de afetividade e fidelidade entre o Parque e seus frequentadores.

Bicho preguiça que vira travesseirinho

Num primeiro momento, desenhei uma linha de animais composta pelos mamíferos, aves, anfíbios e répteis, com histórias próprias que auxiliassem no vínculo com o público infantil, mas também trouxesse informação que cativasse o público adulto. E tangibilizei essa proposta em bonecos. Os primeiros sketches foram em cima dos mamíferos, incluindo o quati, animal símbolo do parque.

Bicho preguiça que vira boneco

Claro que poderiam ser desenvolvidas linhas de jogos e materiais de merchandising. Mas minha preocupação inicial sempre foi o vínculo, o enlace que embasa o aprendizado e cria uma consciência de preservação. Esses primeiros brinquedos tão macios e acolhedores, companheiro em momentos difíceis, na hora de dormir sozinho, no dia de chuva e trovões, na saudade da mãe ou do pai… eles emprestariam suas características e acompanhariam a criança numa jornada de consciência e preservação.

Tamanduá em proposta de boneco abraçável, pra carregar juntinho do coração

A intenção também se expandia para o desenvolvimento dessas histórias e a devida comunicação e publicidade para que as personagens e, consequentemente, os animais que representam, ficassem evidenciados e facilmente reconhecíveis pelo público.

Travesseirinho para dividir a preguiça!

O AquaRio, localizado no Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma linha de personagens desenvolvida pelo designer Bernardo Prata. E perceba como ele descreve, por exemplo, as características da personagem Zé Tubarino: “Apesar de ser um tubarão é bonzinho, um cara muito alegre que tem um jeitão bem carioca”. Perceba como o conceito auxilia na educação, desmistificando a imagem nociva que se tem do animal… Imagina eles com uma história por detrás… histórias potencializam o aprendizado, como escrevi recentemente nesse post. Quer um exemplo? Tenho certeza de que seu filho ou filha reconhece em segundos o que é um peixe palhaço e sabe que ele se abriga em uma anêmona. Onde foi que eles aprenderam isso?

O Zoológico de San Diego e a WWF do Canadá alegam que os recursos captados pela venda de pelúcias auxiliam no cuidado de seus animais. A WWF chega a utilizar o termo adoção, numa tentativa de reforçar o vínculo e o cuidado, em sua campanha.

Mas não podemos tratar o potencial apenas como merchandising ou captação de recursos. É preciso criar uma relação, semear afeto para colher o cuidado. Fazê-las entender que somos natureza e, como um organismo vivo, necessitamos colaborar, cuidar e preservar. Mas, para isso, é necessário que uma relação seja estabelecida no respeito, admiração e afeto. A relação com esses animais de pelúcia ensina muito para a criança. Ensinam que os sentimentos são preciosos, autênticos e, muitas vezes, necessários.

Por mais que a tecnologia evolua, o vínculo com as pessoas é necessário e precisa ser preservado. A tecnologia poderia complementar com informações e possibilidades de jogos a partir de alguma coisa concreta que a pessoa pode comprar, colecionar e se relacionar (uma proposta que até delineei para uma fase posterior, complementando a experiência inicial de compra). Por mais que a tecnologia se modifique, o ser humano tem necessidade de afeto e de vínculo. E nós, adultos, por vezes depositamos atributos emocionais em um personagem que está fora da gente.

O bichinho simboliza um pouco de nós mesmos quando erámos crianças.

A preocupação com o meio ambiente e a conscientização deve envolver toda a sociedade, inclusive nossas crianças que devem observar o meio ambiente com curiosidade, percebendo-se como ser integrante, dependente, transformador e, acima de tudo, que tem atitudes de conservação.

Para que haja mudanças eficientes no futuro, a boa relação com o meio ambiente deve começar desde cedo.

Formar uma criança com consciência ecológica e ambiental é necessário, mas essa formação pode ser um processo lento. Por isso, é importante que o grupo familiar incentive as boas maneiras desde a primeira infância e, sobretudo, seja um bom exemplo para os filhos.

Bonecos representando animais, ressaltando suas características e reforçando os vínculos que o tornem tão especial despertam a consciência das crianças para a ecologia, além de dar-lhes a oportunidade de “cuidar” – ainda que de brincadeira – de um serzinho com o qual ela pode se identificar, envolver e se reconhecer em suas características.

Por diversas razões, esse projeto acabou não indo muito à frente. Mas percebo que caminhamos para uma maior compreensão a respeito do potencial educativo e de conscientização que afetem e gerem melhores atitudes. Quem sabe essa proposta não encontra alguma ressonância em alguma oportunidade, marca ou projeto que se sensibilize não apenas com os ganhos de merchandising, mas principalmente, com o lado educativo e o potencial de enlace emocional e criação de memórias que incentivem o cuidar? Você pode ajudar, compartilhando esse post. 🙂

Ficou curioso? Deseja conhecer o projeto por inteiro e visualizar a linha de animais e suas histórias engrandecedoras que criam memórias que façam uma criança cuidar e entender a importância de se preservar todo ser vivo? Entre em contato!

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