‘A gente deixa de ser criança quando quer’

Não, não… a frase desse título não é minha.

Adoraria que fosse. Mas não haveria melhor pessoa para expressá-la e dar a essa fala o peso e a importância necessária: essa afirmativa foi feita por Sálua Chequer, educadora, musicista, pesquisadora e brincante. Desde 1980, atua na área da cultura popular.

Tive meu primeiro encantamento com seu trabalho através da exposição ´Brinquedos à mão´, que inspirou esse genuíno registro não apenas sobre a exposição em si, mas principalmente sobre seu trabalho, pesquisa e ideias. E esse registro nos aproximou (a internet certamente auxilia ao facilitar encontros, seu sei, mas creio que, mais do que isso, tivemos uma aproximação regida por profunda sintonia).

Como uma generosa consequencia dessa proximidade, tive o privilégio de receber uma caixa mágica, enviada pela própria Sálua, repleta de infância. Sim, infância!

Muitos diriam que essa caixa nos entregava brinquedos. Mas não eram brinquedos prontos, industriais, que tendem a se tornar descartáveis. Eram brinquedos artesanais, coloridos, encantadores tanto pelas suas formas quanto pela resultante do entusiasmo dos artesãos que os criaram.

Eu continuava entendendo que havia sido presentado pelos mais significativos registro de uma infância  que não se apega à posse, mas às oportunidades de exploração e incentivo à imaginação criadora. Artefatos que permitem  descobrir seus próprios jeitos de sentir, de ser, de viver. São vetores que incentivam a interação e a troca. Como disse o curador e artista visual Zé de Rocha “um simples pedaço de pano ou madeira tem a capacidade de, numa simples brincadeira, criar mundos e transformar vidas”. A criança sempre terá a capacidade de ressignificar e imaginar. Essa é a sua – tão potente – forma de resistência.

A caixa mágica está conosco até hoje, convidativa e potencializadora, provendo a meus filhos a possibilidade de transformar o mundo a partir das próprias mãos, provendo alguma recuperação da importância e do valor pedagógico dos brinquedos populares como referência para as antigas e as novas gerações. Segue como sopro de uma esperança – que encontrei no trabalho de Sálua, nas falas Zé da Rocha, nos textos da comunicóloga e especialista em infância Carolina Prestes – ludicamente confrontando o brinquedo pronto e industrializado que nos leva a  correr o risco de reduzir o campo de experimentações de nossas crianças, além de reforçar os discursos e valores da indústria.

E que essa infância permaneça. Principalmente nos adultos! Que a frase de Sálua, que utilizei para o título desse post, nos faça refletir e desejar ser criança.  Que entendamos a maturidade de forma mais lúdica. E, parafraseando a pesquisadora… “Se algum dia tiver que usar bengala, que seja uma sombrinha de frevo.”

Deixe uma resposta