‘Por que – e para que – educamos as crianças’?

Alike – uma animação que propõe o questionamento da lógica do mundo moderno, que valoriza o trabalho e o dinheiro acima de todas as coisas.


A criatividade infantil é algo que impressiona. Pela sua potência e pela simplicidade.  Não é preciso muito esforço. Basta imaginar!

Quando crescemos, porém, descobrimos que a imaginação tem poderosos inimigos: a rotina, a mesmice, os padrões sociais. Levantar, pegar trânsito, trabalhar, voltar para casa, dormir, levantar, pegar trânsito…. Como um vírus, essa ciranda se alastra rapidamente pela sociedade, infectando até mesmo as escolas e atingindo os pequenos.

Você já parou para refletir sobre o ´formato´ de estudo atual? Será realmente o mais adequado? Será que realmente explora potenciais ou será que ´enquadra´ para a formação de uma profissão, apenas? Será que exercitam o aprendizado contínuo, a multi ou transdisciplinaridade? Ou, pelo contrário, tiram-lhes a capacidade e o tempo de imaginar o mundo do jeito que elas querem?

“Se a um ser humano dizemos que a única coisa que importa de tudo o que está fazendo agora é preparar-se para continuar vivendo, estamos falando a um escravo, e não a ser humano”.

A fala acima é da psicóloga argentina Silvia Bleichmar, que nos recorda (ou nos alerta) que a “escola é um lugar de recuperação de sonhos”.

“Por que tenho que ir à escola?” Esta pergunta pode ganhar diferentes contornos de respostas se refletirmos sobre o lugar em que colocamos a escola na vida das crianças e o modo que justificamos sua atuação nela. E isso tudo diz muito sobre o que imaginamos que é o sentido da vida.

É justamente sobre essa questão que se debruça uma animação encantadora, produzida por Daniel Martínez e Rafa Cano Méndez. O filme “Alike” (“Igual” ou “Semelhante”) consegue, em menos de dez minutos, fazer uma reflexão profunda sobre os papéis sociais que transmitimos para uma criança, e como os valores de vida que comunicamos em nossas atitudes refletem no modo como as crianças percebem seu papel no mundo. Tudo isso através da relação de um pai com o filho, e de como nossa vida pode se tornar cinza e sem graças sob a pressão da sociedade.

Na história, o personagem – Copi –  é um pai trabalhador e engajado, que se preocupa em ensinar o caminho “certo” para seu filho – Paste. Porém, a rotina atribulada não lhe deixa refletir  sobre os motivos pelos quais faz isso, e mais importante, para que faz isso. Ele só cumpre horários, executa tarefas e ensina o filho a repetir este comportamento.

O desenrolar dos acontecimentos mostra como, muitas vezes, copiamos os padrões que nos ensinaram, sem parar para refletir qual o sentido daquilo. Afinal, ‘certo’ e ‘errado’ são valores social e historicamente construídos, e mais importante do que introjetá-los em nossas vidas, é refletir sobre o que funciona para cada indivíduo e cada família.

Aliás, cabe aqui uma observação: por sua sensibilidade e linguagem poética e delicada, o vídeo poderia ser utilizado por educadores que queiram propor uma discussão sobre sociedade, cultura, economia, valores familiares, padrões comportamentais e relações interpessoais.

Veja e se emocione em https://vimeo.com/194276412

Perceba como  a animação discute a importância da escuta nas relações entre pais e filhos, o lugar massificador que a escola, muitas vezes ocupa, e a semelhança dela com espaços de trabalho em que a criatividade e a ludicidade não encontram eco. Com uma mensagem super positiva, o curta nos lembra da importância da imaginação como caminho para fazer do mundo um lugar mais colorido.

Ao mesmo tempo, o filme retoma a necessidade de que processos educativos sejam customizados às necessidades e interesses das crianças, entendendo o vínculo e as relações de afeto como fundamentais para a aprendizagem.

O filme também fala de paternidade, pela importância de permitir que as crianças descubram e construam seu próprio caminho, sem que o dinheiro, as cobranças sociais e profissionais sejam a pauta dessa vida que está começando desde seu início.

Muitas coisas que nos são passadas como se fossem verdadeiras regras naturais são, em verdade, simplesmente padrões e cobranças que nós reproduzimos, mas que podemos subverter – e assim devolver as cores à nossa vida.

Trabalhar para ter dinheiro. A vida é só isso? O final encantador revela como pequenas transformações individuais podem revolucionar o nosso papel no mundo.

ALIKE nos faz refletir sobre o real motivo para o qual estamos sendo educados e preparados. Em uma vida extremamente corrida e ocupada, estamos sempre buscando ensinar o caminho certo para nossos filhos.

Mas … Qual é o caminho correto?

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